
Caso Edeltrudes Costa: uma imprensa pública com as mesmas “ordens superiores” de JES
É uma vergonha para a nossa democracia e para a credibilidade do titular do Poder Executivo João Lourenço esse comportamento omisso dos órgãos públicos de comunicação social (RNA, TPA, Jornal de Angola e Angop) que simplesmente terão recebido as famosas “ordens superiores” para que não se fizesse a cobertura jornalística da manifestação que aconteceu ontem, sábado, 3, de jovens activistas, que exigiu a demissão de Edeltrudes Costa, director do gabinete do Presidente da República.
Esta omissão é uma clara violação à Constituição e a Lei n.°1/17, de 23 de Janeiro, a Lei de Imprensa.
Não há necessidade de se envolver, pela negativa, os órgãos públicos de comunicação social nessa situação. E também não acredito que esta “ordem superior” tenha vindo do Presidente da República. Infelizmente, há anjos que tentam sempre mandar mais que Deus!
Independentemente de essas manifestações fazerem parte de um plano macabro dos adversários de João Lourenço, com um grande apoio vindo de uma parte da imprensa portuguesa, insatisfeitos com os efeitos do combate à corrupção, continuo com a ideia de que qualquer político que tiver o seu nome envolvido em escândalos, que mostrem ser desonesto, devem vir a público justificar-se.
É uma mancha negra, no âmbito do combate à corrupção (transparente), para a imagem de João Lourenço, esta omissão da imprensa pública.
Entretanto, a minha observação regista uma evolução na actuação dos órgãos de Defesa e de Segurança, que têm deixado os manifestantes exprimirem o que lhes vem da alma sem serem molestados, um claro indicador de que este Executivo sustentado pelo MPLA tem demonstrado uma evolução no que ao direito à manifestação pública diz respeito.
Importa sublinhar que o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social e a Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA), os órgãos do Estado responsáveis pela inviolabilidade da Lei de Imprensa, devem fazer um pronunciamento público oficial para que esta mancha negra fique registada e que sirva de reflexão para os angolanos sobre se vale ou não a pena manter este MPLA no poder, que continua a sustentar um Executivo opressor, que mantém as mesmas práticas, na imprensa pública, do tempo de José Eduardo dos Santos.
Carlos Alberto
04.10.2020