
E se criássemos uma lei contra a propaganda barata no Estado de Emergência?
Por: Carlos Alberto (Cidadão e Jornalista)
Não sabemos como faríamos isso, os juristas aqui podiam dar uma ajuda. O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, que é jurista, o mesmo que anunciou alterações no Estado de Emergência que foi prorrogado até ao dia 25 de Abril, podia pensar nisso para alterar o que tem estado a acontecer na Comunicação Social.
Pensamos que, nesta fase do combate à Covid-19, devíamos ter uma lei extraordinária que impedisse a publicitação, nos órgãos públicos e privados de comunicação social, de doações de produtos alimentares a famílias angolanas carenciadas.
Assim impediríamos a propaganda barata, com vista ao voto em futuras eleições autárquicas e nas eleições gerais em 2022, com desonestidade intelectual e falta de ética por parte de partidos e coligações de partidos políticos, que, mesmo numa fase de “calamidade pública” – motivo que se interpretou ser realidade em Angola para se chegar ao Estado de Emergência, de acordo com a Constituição, com as nossas reservas – usam os meios públicos e privados de comunicação social para se autopromoverem, quando o foco nesta altura devia salvar vidas dos nossos compatriotas sem olhar para a cor da mão que se estica para ajudar.
Outrossim, se partirmos do pressuposto de que o MPLA tem mais recursos financeiros que outras forças políticas com assento parlamentar, vamos ter, seguramente, uma desproporcionalidade na publicitação desses actos nos órgãos de comunicação social, dando a entender – sem ser verdade – que só o MPLA é que está a ajudar os angolanos, para além de que teríamos todos os noticiários e jornais a falar do MPLA em campanhas de doação, exactamente o mesmo fenómeno que vimos na questão da seca nas províncias do Sul de Angola, quando até é o próprio MPLA o principal culpado de termos, até hoje, fome e pobreza extrema, partindo da ideia de que os outros nunca governaram para que pudéssemos aferir quem tem maior capacidade de governar este país.
Portanto, pensamos que devíamos cortar essa promoção barata (na comunicação social) de partidos políticos que pretendem ficar no poder a todo o custo e de outros (da oposição) que não conseguem pensar país, também, acima da sua autopromoção.
Importa sublinhar aqui que julgamos ser ridículo e humilhante (até) para todos os angolanos estarmos a abrir telejornais com doações de comida aos nossos compatriotas, quando eles, se fóssemos um país normal, deviam direito a uma refeição, pelo menos, por dia, com alguma dignidade.
Ao passarmos estes actos de doação de coisas nas televisões, estamos a insultar as próprias famílias (nossos concidadãos) que aparecem na TPA (como vimos ontem no Telejornal, com sorrisos à mistura do secretário-geral do MPLA Paulo Pombolo) a agradecerem por terem agora um prato de comida à mesa (se existir mesa!).
Consideramos isso um abuso, falta de sensibilidade e de moral por parte de todos os partidos políticos que estão a proceder deste jeito, que mostram que precisam de publicitação na televisão para doar alguma coisa ao próximo em troca de um voto nas urnas no futuro.
Somos até mesmo de opinião que o Secretário de Estado da Comunicação Social Nuno Caldas deva criar mecanismos para impedir que os órgãos públicos de comunicação social publicitem esta pouca vergonha, de uma insensibilidade para com o sofrimento do próximo, sem adjectivação possível.
Carlos Alberto
10.04.2020